Uso, Acesso à informação e o apelo midiático


Falar do uso e acesso à informação, para profissionais da área de ciência da informação, dá sempre muito “pano pra manga”.

Quem tem acesso às fontes de informações e aqueles que são responsáveis por sua disseminação, tem em suas mãos uma ferramenta de tamanho poder e que muitas vezes utilizam para fins comerciais. Esse uso não pode ser tido como “mercenário” ou que mereça críticas, afinal de contas, num mundo onde a informação, além de poder, é moeda de troca e de comercialização assim como toda e qualquer mercadoria.

Um exemplo simples para se ilustrar o que afirmo acima são as emissoras de (tele)comunicação, que vendem espaços publicitários em sua programação, se baseando na auto-credibilidade que acreditam ter em vista da influência que supostamente exercem em seus (tele)espectadores.

No final do mês de setembro desse ano, assisti uma reportagem da TV Record sobre a Paraíba, onde mostrou, claro, as belezas naturais do litoral, a praia de Tambaba, etc e tal, mas quando a reportagem adentrou o interior do Estado foi um desastre por cima de desastre.

Indicou a cidade de Campina Grande como situada no Sertão paraibano, onde na verdade é uma cidade que fica na região conhecida como “planalto da Borborema” sendo mais exatamente no Agreste do Estado.

Entrada de Campina Grande segundo a TV Record
Entrada de Campina Grande segundo a TV Record

A imagem que foi apresentada ao início da fala sobre a cidade foi a de uma estrada de terra batida, onde uma caminhonete passava e levantava poeira, dando a entender que o acesso à cidade, no sentido capital / interior, era dessa forma, quando na verdade o acesso a cidade é pela BR 230 que, diga-se de passagem, é duplicada e asfaltada.

Entrada de Campina Grande - BR 230
Entrada de Campina Grande - BR 230 - sentido João Pessoa / Campina

Se for listar todos os “absurdos” cometidos pela produção da reportagem, passaria horas digitando e você, caro leitor, a ler cansativamente.

Assim, relato apenas mais um absurdo, onde mostraram a “feira do troca-troca”, um local onde a moeda de troca é o próprio produto e o repórter comprou uma galinha viva por 2 reais, depois a trocou por por um relógio digital, depois por um relógio de ponteiros e finalmente por verduras. Referiram-se como sendo o a feira central da cidade.

Um fato interessante é que Campina Grande chega a ser mais populosa que a cidade histórica fluminense de Petrópolis que tem 296 044 habitantes enquanto Campina Grande registra 387 643 habitantes, segundo o IBGE (Fonte: IBGE, 2011)

Se a reportagem tivesse ao menos consultado o Google e a Wikipédia, apresentaria um conteúdo TOTALMENTE  diferente.

A falta de escrúpulos da reportagem em mostrar uma região rica, desenvolvida como uma área rural, com comércio totalmente informal e sem nenhum desenvolvimento econômico ficou nítido, mas apenas para quem conhece ou já pesquisou sobre a cidade e a região.

O apelo comercial da mídia em explorar e exibir apenas o que “querem” é uma forma de iludir e mentir para os (tele)espectadores, como também os anunciantes que pagam pelo espaço publicitário.

A informação tem que ser passada de forma fidedigna, isenta de pontos de vista, a não ser que se trate de uma autoridade no assunto.

Não sou jornalista, não sou paraibano. Sou um bibliotecário preocupado com o tipo de acesso e uso que se dá para a informação.

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Quem desejar, pode assistir a matéria na integra em http://noticias.r7.com/videos/praia-naturista-feira-de-troca-e-preguicas-na-praca-sao-curiosidades-da-paraiba/idmedia/4e7fc77bfc9b654c6cad5eb1.html

A difícil arte de ler blog


Esses dias me deparei com uma situação inusitada.

Frequentemente leio blogs sobre biblioteconomia, ciência da informação, tecnologia, etc.. nesse meio costumo ler ainda blogs de centros acadêmicos de biblioteconomia, para saber o que se faz e sobre o que estão falando na graduação e no movimento estudantil.

Lendo um blog de um Centro Academico de um curso de Biblioteconomia li o seguinte post.

[Tomei a liberdade de suprimir os nomes pessoais e institucionais.]

“No dia 12 de março de 2011, Dia do Bibliotecário, tivemos um “Café – Palestra” com a ilustre presença da Professora X, Professora do Departamento de Ciência da Informação e do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação – Universidade Y Livre-docente em Catalogação que ministrou a palestra: Biblioteca, Informação e Empoderamento com considerações interessantes sobre a posição do bibliotecário diante da informação, lidar com vários meios para disseminá-la, catalogação etc. Quem viu pode confirmar que foi bastante proveitoso ( teve alguns alunos que esticaram a saída também…hehe, para comemorar o reencontro no último dia antes de começarem as aulas que iniciaram dia 14 de março).”

Então fiquei curioso, sem saber onde foi o local do evento, quem apoiou, se teve adesão dos alunos, profissionais, professores, quantos participantes, etc… e fiz o seguinte comentário no post:

“Vamos completar a postagem?
Onde(nome da instituição e do auditório)? Realizado a que horas?
Promovido por quem?
Com o apoio de quem?
Contou com a participação dos estudantes de quais períodos?
Quantos participantes?
Foram apenas estudantes ou bibliotecarios e professores também foram?”

Entendo que esses futuros profissionais ou qualquer outra pessoa que alimente um blog tenha que dar informações completas, afinal de contas um blog pode ser visualisado de qualquer parte do planeta e ao meu ver essa postagem não fornecia todas as informações sobre o evento.

Sabe o que eu recebi como resposta, desses futuros profissionais da informação?

“se vc quisesse realmente essa informações teria lido o convite na postagem anterior “AGENDE-SE” e teria participado do evento!”

Procurei essa postagem, tive que ir em “postagens mais antigas” por duas vezes. Tinham 7 postagens entre “agende-se” e a postagem falando sobre a realização do evento. Pobre do visitante…

Ainda recebi

“creio que não deixamos de informar nada, mas caso alguém de outra instituição,estado ou país queira participar de algum evento é só entrar em CONTATO através do nosso email”

Ou seja, disseminação da informação acho que não é a principal função desse blog, pois não se dissemina, você só saberá se perguntar.

Trepliquei dizendo que “estando na Internet QUALQUER PESSOA NO PLANETA está passível de acessar” e recebi como resposta

“se QUALQUER PESSOA NO PLANETA vai comparecer ao evento que restrito a algumas pessoas, estas, que receberam todas as informações por email”

Agora sim, acho que entendi. O blog parece ser EXCLUSIVO para algumas pessoas, quem não faz parte do curso desta Universidade nem invente de acessar, da até a impressão de que “você não é bem vindo aqui, você não tem que saber da nossa vida”.

Percebi que há uma falta de prática na publicidade dos eventos em que estes alunos participam, talvez eles não tenham participado de muitos eventos ou até mesmo achem que todo visitante tenha, obrigatoriamente, que ler todo o blog, todas as postagens anteriores. Acho que adicionando uma linha com algo assim “Lembrando que este evento faz parte das atividades divulgadas no post agende-se (link para o post)”, ou simplesmente que o post tivesse todas as informações.

É, alimentar um blog não é fácil, ler blog também não é fácil, saber receber críticas é para poucos, ou talvez eu que não saiba o que é um blog.

CALEM A BOCA NORDESTINOS


Não pretendo ser mais um entusiasta nessa onda de “xenofobia”, mas vale a pena ler esse texto que recebi por e-mail.

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CALEM A BOCA NORDESTINOS

Por José Barbosa Júnior*

A eleição de Dilma Rousseff trouxe à tona, entre muitas outras coisas, o que há de pior no Brasil em relação aos preconceitos. Sejam eles religiosos, partidários, regionais, foram lançados à luz de maneira violenta, sádica e contraditória.

Já escrevi sobre os preconceitos religiosos em outros textos e a cada dia me envergonho mais do povo que se diz evangélico (do qual faço parte) e dos pilantras profissionais de púlpito, como Silas Malafaia, Renê Terra Nova e outros, que se venderam de forma absurda aos seus candidatos. E que fique bem claro: não os cito por terem apoiado o Serra… outros pastores se venderam vergonhosamente para apoiarem a candidata petista. A luta pelo poder ainda é a maior no meio do baixo-evangelicismo brasileiro.

Mas o que me motivou a escrever este texto foi a celeuma causada na internet, que extrapolou a rede mundial de computadores, pelas declarações da paulista, estudante de Direito, Mayara Petruso, alavancada por uma declaração no twitter: “Nordestino não é gente. Faça um favor a SP, mate um nordestino afogado!”.

Infelizmente, Mayara não foi a única. Vários outros “brasileiros” também passaram a agredir os nordestinos, revoltados com o resultado final das eleições, que elegeu a primeira mulher presidentE ou presidentA (sim, fui corrigido por muitos e convencido pelos “amigos” Houaiss e Aurélio) do nosso país.

E fiquei a pensar nas verdades ditas por estes jovens, tão emocionados em suas declarações contra os nordestinos. Eles têm razão!

Os nordestinos devem ficar quietos! Cale a boca, povo do Nordeste!

Que coisas boas vocês têm pra oferecer ao resto do país?

Ou vocês pensam que são os bons só porque deram à literatura brasileira nomes como o do alagoano Graciliano Ramos, dos paraibanos José Lins do Rego e Ariano Suassuna, dos pernambucanos João Cabral de Melo Neto e Manuel Bandeira, ou então dos cearenses José de Alencar e a maravilhosa ?

Só porque o Maranhão nos deu Gonçalves Dias, Aluisio Azevedo, Arthur Azevedo, Ferreira Gullar, José Louzeiro e Josué Montello, e o Ceará nos presenteou com José de Alencar e Patativa do Assaré e a Bahia em seus encantos nos deu como herança Jorge Amado, vocês pensam que podem tudo?

Isso sem falar no humor brasileiro, de quem sugamos de vocês os talentos do genial Chico Anysio, do eterno trapalhão Renato Aragão, de Tom Cavalcante e até mesmo do palhaço Tiririca, que foi eleito o deputado federal mais votado pelos… pasmem… PAULISTAS!!!

E já que está na moda o cinema brasileiro, ainda poderia falar de atores como os cearenses José Wilker, Luiza Tomé, Milton Moraes e Emiliano Queiróz, o inesquecível Dirceu Borboleta, ou ainda do paraibano José Dumont ou de Marco Nanini, pernambucano.

Ah! E ainda os baianos Lázaro Ramos e Wagner Moura, que será eternizado pelo “carioca” Capitão Nascimento, de Tropa de Elite, 1 e 2.

Música? Não, vocês nordestinos não poderiam ter coisa boa a nos oferecer, povo analfabeto e sem cultura…

Ou pensam que teremos que aceitar vocês por causa da aterradora simplicidade e majestade de Luiz Gonzaga, o rei do baião? Ou das lindas canções de Nando Cordel e dos seus conterrâneos pernambucanos Alceu Valença, Dominguinhos, Geraldo Azevedo e Lenine? Isso sem falar nos paraibanos Zé e Elba Ramalho e do cearense Fagner

E Não poderia deixar de lembrar também da genial família Caymmi e suas melofias doces e baianas a embalar dias e noites repletas de poesia…

Ah! Nordestinos…

Além de tudo isso, vocês ainda resistiram à escravatura? E foi daí que nasceu o mais famoso quilombo, símbolo da resistência dos negros á força opressora do branco que sabe o que é melhor para o nosso país? Por que vocês foram nos dar Zumbi dos Palmares? Só para marcar mais um ponto na sofrida e linda história do seu povo?

Um conselho, pobres nordestinos. Vocês deveriam aprender conosco, povo civilizado do sul e sudeste do Brasil. Nós, sim, temos coisas boas a lhes ensinar.

Por que não aprendem conosco os batidões do funk carioca? Deveriam aprender e ver as suas meninas dançarem até o chão, sendo carinhosamente chamadas de “cachorras”. Além disso, deveriam aprender também muito da poesia estética e musical de Tati Quebra-Barraco, Latino e Kelly Key. Sim, porque melhor que a asa branca bater asas e voar, é ter festa no apê e rolar bundalelê!

Por que não aprendem do pagode gostoso de Netinho de Paula? E ainda poderiam levar suas meninas para “um dia de princesa” (se não apanharem no caminho)! Ou então o rock melódico e poético de Supla! Vocês adorariam!!!

Mas se não quiserem, podemos pedir ao pessoal aqui do lado, do Mato Grosso do Sul, que lhes exporte o sertanejo universitário… coisa da melhor qualidade!

Ah! E sem falar numa coisa que vocês tem que aprender conosco, povo civilizado, branco e intelectualizado: explorar bem o trabalho infantil! Vocês não sabem, mas na verdade não está em jogo se é ou não trabalho infantil (isso pouco vale pra justiça), o que importa mesmo é o QUANTO esse trabalho infantil vai render. Ou vocês não perceberam ainda que suas crianças não podem trabalhar nas plantações, nas roças, etc. porque isso as afasta da escola e é um trabalho horroroso e sujo, mas na verdade, é porque ganha pouco. Bom mesmo é a menina deixar de estudar pra ser modelo e sustentar os pais, ou ser atriz mirim ou cantora e ter a sua vida totalmente modificada, mesmo que não tenha estrutura psicológica pra isso… mas o que importa mesmo é que vão encher o bolso e nunca precisarão de Bolsa-família, daí, é fácil criticar quem precisa!

Minha mensagem então é essa: – Calem a boca, nordestinos!

Calem a boca, porque vocês não precisam se rebaixar e tentar responder a tantos absurdos de gente que não entende o que é, mesmo sendo abandonado por tantos anos pelo próprio país, vocês tirarem tanta beleza e poesia das mãos calejadas e das peles ressecadas de sol a sol.

Calem a boca, e deixem quem não tem nada pra dizer jogar suas palavras ao vento. Não deixem que isso os tire de sua posição majestosa na construção desse povo maravilhoso, de tantas cores, sotaques, religiões e gentes.

Calem a boca, porque a história desse país responderá por si mesma a importância e a contribuição que vocês nos legaram, seja na literatura, na música, nas artes cênicas ou em quaisquer situações em que a força do seu povo falou mais alto e fez valer a máxima do escritor: “O sertanejo é, antes de tudo, um forte!”

Que o Deus de todos os povos, raças, tribos e nações, os abençoe, queridos irmãos nordestinos!

*Recebi por e-mail e constava essa autoria.

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